Bichos feios em corpo de donzela
belas adormecidas, hipócritas, futéis
e o mundo a girar devagar
tudo a regredir como pétalas a nascerem ao contrário
ou borboletas com longos anos de vida.
E o amor só para flagelar a vida má
e a tortura a sugar vida imperfeita.
Mortos por dentro, renegamos o feio
e escondemos cobardias no bolso,
como quem esconde vergonhas, coisas
que não podes mostrar aos outros.
E mentir diariamente, vestir animais
de gente decente e fingir,
como hábito feio de se fazer todos os dias.
Cuspir para o chão e berrar coisas infames
próprio dos bichos que não se mascaram
como nós. Gente decente mente.
Em corpos montruosos ou nos nossos,
vestir a sinceridade de negro e andar
de luto por ela, pelas ruas a sorrir
aos pobres e a fazer inveja aos sinceros.
Para enterrar, qual bicho morto, as
qualidades que nos assassinam
perante os outros fingindo sentir
e fraquejar sem coração de pedra.
Meninas bem comportadas não gostam,
mas apreciam e as emoções ao rubro
guardam-se junto ao peito para não dar
nas vistas.