Vejo no reflexo dos teus olhos
a espera dos dias de verão
um poema fresco à beira-mar
que só me consome a memória
e o olhar que pára
a concentrar-se nas imagens
dos sonhos antigos.
sei que no meio da estação
está a virtude de todo o ano
é como encontrar a virtude
do poema, sempre escondida
no coração da mesma palavra.
Estou num comboio fantasma. A sensação de um comboio vazio de gente, de indicações, limpo de sinais... só um comboio. Anónimo.
— Acho que vai para Nenhures — disse alguém ao seu lado.
Um passageiro fantasma? Um homem velho que não tinha visto chegar, distraída a escrevinhar no seu caderninho preto, tentando lutar contra a velocidade desajeitada do comboio que a fazia saltitar letras pelas páginas do caderno.
— Desculpe? Disse que vai para onde? — peguntou ela, meio a fingir que não ouvira o comentário, meio curiosa.
— Para Nenhum Lado. Nunca esteve lá? — o homem continuou sem esperar a resposta — É um sítio lindíssimo, passei lá belos tempos, só não me lembro quando... (Falava como se fosse consigo mesmo, como se pensasse em voz alta.)