Andei muito tempo a pensar em comércio. Mesmo antes de pensar sobre ele, olhava-o curiosa, nos seus grandes letreiros, nos balcões de madeira, nas embalagens de papel, nas mãos antigas e despachadas dos comerciantes da minha terra. Depois percebi que era uma coisa da “naturalidade”: o Porto é uma cidade burguesa, o burgo dos comerciantes, uma cidade de trocas comerciais desde tempos longínquos, um porto portanto. E apesar de nunca ter estado atrás de um balcão, tirado cafés ou atendido fregueses, havia um fascínio natural por balcões e cafés; por estantes de mercearias e embalagens; por ruas de montras. (Há muitos anos, numa breve mas muito completa viagem por Inglaterra — de Londres ao ponto mais norte da Escócia — o que mais me aliciou a curiosidade e os olhos foram as lojas, as infinitas lojas de chá, de produtos artesanais, de livros, de brinquedos.)