"(...) É tradicional aquilo que se diz que é para os efeitos pelos quais se diz que é e porquê. É uma definição como outra qualquer. Serve ao mesmo tempo para falar das coisas e, sobretudo, a partir das coisas na demanda de outros assuntos que assim se vão insinuando. Quando alguém quer dizer a alguém que a sua condição é um pouco mais sofisticada, dir-lhe-á, por exemplo, sabes, descobri este lenço naquela loja muito antiga, muito tradicional que há naquela rua onde ninguém vai. O outro, se perceber, responder-lhe-á, sim, sim já sei, é aquela loja que compra os restos de colecção da Zara. E pronto. Diz-se também que o tradicional é autêntico. Outra vaca no milho. Autêntico é tudo o que existe porque basta isso para lhe atestar a autenticidade, seja uma falsificação de uma pintura conhecida, seja um porta-chaves com o Monstro do Lago Negro."
A saber: a perda, tal como um homem
é uma coisa sozinha sem dono.
A tê-la, nossa, é também de sofrer sozinhos.
Nunca partilhamos as perdas, nem as partidas.
Só o fôlego desse intervalo magro
entre largar a mão da tua presença.
Saber aquilo que me mirrava no peito
mas também no centro do coração:
uma estrela tão grande que crescia sem pontas,
só brilho.
Se acordo de um sopro,
adormeces naquele
segundo emprestado.
O amor só suga
o único ar intransmissível.
Porto, junho 2015
depois
Até o meu cabelo, apostado em não crescer anos a fio
parecia brotar do cucuruto, e da nuca, louco em longuras
depois que te deixei.
E as falas claras e concisas das conversas a ficarem para trás,
só um sussurro entre-dentes no passado.
E os gestos infinitos sempre os mesmos,
a serem agora revistos pela mãos novas que fiz.
Até os olhos, depois de te deixar,
são mais fáceis agora e sem aquela tristeza
que era da indiferença.
Depois de te deixar voltei a fotografar as mesmas imagens
que conhecia antes de saber quem eras.
Será que nunca soube de ti por causa das imagens velhas?
Ficarmos ocos por dentro nunca é uma opção.
É um desvio.
É para ficarmos a saber que o amor
nos rouba (sempre) à poesia.
Porto, junho 2015
Até o meu cabelo, apostado em não crescer anos a fio
parecia brotar do cucuruto, e da nuca, louco em longuras
depois que te deixei.
E as falas claras e concisas das conversas a ficarem para trás,
só um sussurro entre-dentes no passado.
E os gestos infinitos sempre os mesmos,
a serem agora revistos pela mãos novas que fiz.
Até os olhos, depois de te deixar,
são mais fáceis agora e sem aquela tristeza
que era da indiferença.
Depois de te deixar voltei a fotografar as mesmas imagens
que conhecia antes de saber quem eras.
Será que nunca soube de ti por causa das imagens velhas?
Ficarmos ocos por dentro nunca é uma opção.
É um desvio.
É para ficarmos a saber que o amor
nos rouba (sempre) à poesia.
O teu nome é uma daquelas coisas que se perde em tradução.
De sangue rosa azulado em nobreza e não só mesa, tecto, colchão.
O meu nome foi só outra coisa rabiscado na parede, a tua lousa.
De aparatoso há quem o ache piroso mas tu também és cor-de-rosa.
És rosa de cheiro? És rosa de gládio? Botão de betão?
Não, não, não, não, não...
Recordações são palavrões nortenhos, asneiras banalizadas.
O meu vernáculo é o do habitáculo das 13 assoalhadas.
Recordações da casa cor-de-rosa. Estás colmatosa, eu adormeci.
Vais devoluta e eu não estou de volta, mas ainda acordo em ti.
És rua do Torno? Rua do Casal? O refrão diz
Não, não, não, não, não...