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da sensibilidade

By sufragista - junho 05, 2012

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Por isso, esse lamento do Eça de Queiroz, de isto não ser francês, que somos muito brutos, que somos não sei quê, não sei que mais, somos como?
O que revela do Eça de Queiroz é o desconhecimento do Eça de Queiroz em relação aos franceses: mais brutos que os franceses? Quer dizer, mais (…) Os ingleses têm mais "yobs"… Se tu fores a ver os selvagens que é a classe operária inglesa, uma selvajaria, uma ignorância, não sabem falar sequer.

Quer dizer, é isso que nós somos?(…) quando nós dizemos "o inglês", pensamos nas séries inglesas e na família Bel Ami. Mas se tu fores ver os ingleses… são mal-educados, brutos, quer dizer, a classe não educada, muito pior… mas não tem comparação com os portugueses. Mal-criados, maus para os pais, maus para os filhos, horríveis, violentos! Quer dizer… e os franceses também, uns saloios do pior, quer dizer, como é que o Eça de Queiroz tem lata de dizer, não sei quê, "a França chega de comboio"?

Pois, chega de comboio, aquela frase famosa, o que interessa da França e a Inglaterra chega toda pelo correio, tudo o que interessa de Inglaterra vem pelo correio, e agora pelo satélite. Tudo o que interessa, o melhor dos ingleses é escrito em papel e mandado pelo correio. Essa é a verdade. Portanto, o Eça de Queiroz lamenta os comboios mas é isso.

Quer dizer, qual é a lata de dizer que os camponeses portugueses são toscos e não sei quê, matarruanos, então e os franceses? Então na altura em que ele escrevia, achas que eram todos civilizados? Ou que são hoje? Já viste os alemães? Quer dizer, os países mais ricos do que nós, vamos só ver os países mais ricos. Já viste os americanos, os red necks? Não há disso… nós não temos red necks em Portugal. Isso é de um grosseirismo, uma boçalidade… Nós todos somos japoneses ou… nós somos todos Madames Pompadours comparados com as classes operárias inglesa, ou alemã ou francesa.

Miguel Esteves Cardoso

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