Cidade triste e alegre

By sufragista - julho 23, 2018


Esta imagem, resumi-a à escuridão, para poder destacar "a República ao fundo", mas o que faz sentido é falar do porquê de me perder por aqui. Um sítio onde vivi alguns meses, que me marcaram, talvez ainda mais que os dois anos inteiros que vivi em Lisboa. Os sítios podem ser tão importantes como as pessoas, os momentos, o lugar onde estamos na vida. Às vezes sobrepõem-se à ideia de felicidade, ou de tristeza, são recetores de todas as emoções, como se tivessem emoções eles próprios.

Viver naquele sítio, naqueles meses instáveis e dolorosos, foi único. Difícil, precário e único. Será complicado resumir tudo o que vivi quando cheguei a Lisboa em outubro de 2012. Uma mão cheia de manifestações bizarras, as mais pacíficas e as mais violentas que já vi; uma cidade a render-se à exploração imobiliária e ao turismo de massas; uma sociedade em guerra consigo mesma. E eu, incapaz de fazer as melhores escolhas, ou acreditando profundamente no futuro, para poder ignorar o quotidiano, inventava futuros risonhos.

A escuridão que me engoliu depois não foi naquela rua, mas partiu dali. Sinto-me ainda em dívida com Lisboa pelo amargo que foram os dias que vivi por lá. Como se eu amargasse a cidade com a minha tristeza: a calçada, o elétrico, o rio (sempre tão perto), a luz que incendeia. Uma dívida a saldar com o tempo, e mais visitas para me perder nela, sempre e outra vez.

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