O “meu” bairro a gentrificar. Apesar de só ter vivido três meses naquele canto de Lisboa, será para sempre a minha morada favorita, na capital e de todas as outras moradas mais ou menos temporárias que conheci na minha vida. Além da intensidade do que vivia naquela época, há seis anos atrás, o carisma natural daquela zona, e o seu ar abandonado na altura, sempre me atraiu. Muito próximo do centro, mas longe o suficiente para ter um ritmo próprio, muito mais lento e menos superficial que nas zonas mais populares de Lisboa. Na altura, gostava de me perder por aquelas ruas, fazer compras nas mercearias dos indianos, visitar os poucos cafés improváveis que aconteciam por ali, e comprar pão e bolos na padaria da Rua do Poço dos Negros. Estava tudo por gentrificar, aliás, tudo por ocupar. O pouco comércio tradicional que existia estava entregue a quem se quis ocupar dele ou quem desde há muito se havia ocupado dele e permanecia, e eram cada vez menos. Todos os outros sítios que haviam sido lojas estavam, ora fechados ora meio-destruídos, ora meio-abandonadas. E era uma coleção de lojas e de fachadas de meter inveja. Era só uma questão de tempo até se perceber o potencial (imobiliário também) daquela zona, que promete uma qualidade de vida improvável no centro de Lisboa.
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