Eu, que passei anos com tantas reticências em relação a partidos e com problemas em assumir a militância de algum, desde que chegou o Livre, em 2014, senti uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama da política nacional.
Acho que nunca não fui política... desde a adolescência que tive causas pessoais que levava muito a sério, desde o boicote pessoal do McDonalds (após ver um documentário que me chocou muito) aos 14 anos, até ao boicote às super-corporações que faziam testes em animais muito antes destas ideias estarem na ordem do dia, quanto mais serem “tendências”. Aos 16, senti que o Bloco era a resposta para uma nova era política: jovem, fresco e cheio de ideias que eram também as minhas. Votei pela primeira vez aos 18 anos no Miguel Portas para o Parlamento Europeu, e certamente em todas as eleições autárquicas no Porto em que o Bloco concorreu. Na fase da crise, quando deveria ter havido uma oposição implacável, o BE desapontou-me imenso e fiquei de novo a pensar que aquele já não era o partido que me tinha feito sentir essas ideias de mudança.
Na ressaca da crise, com o (pouco) tempo vivido na Escandinávia e com a influência do Borgen (uma série dinamarquesa em que me viciei), descobri que o BE seguia os passos do PCP, na desconfiança do projeto europeu e de uma visão política que implica convergências, acordos e cedências, entre a própria esquerda. O Livre veio responder logo a esses anseios, com uma retórica preciosa (mérito do Rui Tavares) e uma imagem fresca e vanguardista (mérito da designer Vera Tavares, irmã do Rui). Além da empatia natural com os textos e opiniões do Rui Tavares, a forma como o Livre comunicava, informativa e detalhada, com um discurso de transparência exímio eram uma novidade absoluta no cizentismo da política nacional, mesmo à esquerda.
Quando o Bloco já me parecia apenas uma versão mais fixe e menos preconceituosa do PCP, o Livre respondia com duas ideias essenciais: primeiro, que a globalização, tal como as alterações climáticas são uma realidade que não podemos negar e segundo que a UE é a garantia da democracia na Europa, apesar de todos os falhanços. E que o futuro só poderá passar por essas certezas: pensar globalmente as soluções locais, ao nível da Europa e ao nível nacional numa lógica de cooperação e solidariedade. Menos ódio, mais ideias. Porque a UE foi uma construção contra o ódio, o preconceito e as desigualdades - mesmo que tenha falhado em tantas outras coisas.
As primárias abertas do Livre, que primeiro estranhei e acompanhei pela internet deixaram-me fascinada com uma forma realmente nova de fazer política. E de como o próprio processo não só convidava a uma democracia não-caciquista mas dava efetivamente oportunidade a qualquer pessoa com propostas concretas de ter uma voz política.
Nas últimas autárquicas, estive, certamente como tantos apoiantes e simpatizantes, certa da eleição do Rui Tavares para o parlamento, e a ideia preciosa de unir forças à esquerda para garantir o afastamento da direita neo-liberal da PAF que, em quatro anos, tinha destruído em o estado social e a auto-estima do país. Infelizmente, o PAN foi o único pequeno partido a entrar na AR, com a participação “abstencionista” que se lhe conhece durante esta legislatura (abstendo-se em praticamente todas as votações que não fossem diretamente relacionadas com políticas ambientais).
No espaço de quatro anos a regeneração do Livre foi intensa, tendo apresentado uma candidatura mais forte nas últimas autárquicas e uma campanha muito coesa nas eleições europeias deste ano. Comecei a acompanhar a campanha para as legislativas ainda antes do Verão e pela primeira vez tive vontade de participar em encontros do partido.
Comecei tarde, há cerca de um mês, com alguma timidez, mas fiquei convencida à primeira conversa organizada em plena praça pública, no Porto, no centro da Praça Carlos Alberto. Confirmando as minhas reflexões sobre tomar o espaço público como Àgora: espaço político por excelência, capturado tantas vezes pelas iniciativas privadas e pelas marcas. Por um lado, o meu voto no Livre estava já decidido, mas por outro, tinha a necessidade e uma sensação de responsabilidade de participar em encontros e conhecer aquelas ideias ao vivo e as pessoas que as representam. Porque a empatia pessoal não é imune a preferências partidárias ou candidatos a deputados. Adorei ouvir o Jorge Pinto e também a Joacine, que já tinha ouvido umas semanas antes, na apresentação de um filme, um episódio do qual falarei em breve. No Porto, compareci também a uma conversa com os candidatos do Porto, o Jorge Pinto e a Filipa Pinto e com o Rui Tavares, que tinha corrido meio-país nesse dia, numa das fases mais intensa da campanha. Aquilo que ouvi, a forma como foi exposto e o ambiente gerado nesse encontro fez-me não só acreditar profundamente naquela solução política, mas querer unir-me a esse esforço.
As sondagens já afinaram os resultados previstos: a vitória sem maioria do PS, o descalabro do PSD e do próprio CDS que deverá ficar atrás da CDU e uma votação cada vez mais expressiva no Bloco de Esquerda e também no PAN. São só motivos de contentamento para quem é de esquerda e acredita em alguma forma de socialismo. Mas como bem sabemos, pela história recente da política internacional, quanto mais a esquerda se fortalece mais ameaças populistas de direita surgem. Nestas eleições joga-se o jogo das cadeiras de três partidos pequenos e a dúvidas é apenas saber quem vai entrar na Assembleia da República na segunda-feira. Dois desses partidos são de direita, apesar de um deles não o assumir: são claramente ou veladamente xenófobos, racistas e machistas. O único partido ecologista, feminista, anti-racista e europeísta é o Livre — o único partido de esquerda que se pode juntar à AR na próxima segunda-feira é o Livre, numa recusa absoluta dos populismos neo-liberais e xenófobos, que ajudam a disseminar o ódio e a intolerância. Por uma forma mais humana de fazer e estar na política, por uma visão realmente interseccional e solidária da sociedade, por uma visão progressista do mundo, eu voto Livre.
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