O monstro do racismo e da xenofobia já estava entre nós muito antes de o pressentirmos.
Há oito anos, durante os meses que vivi na capital sueca, conheci uma estudante de design alemã que assumia a sua ignorância sobre se a sua aldeia da Baviera havia sofrido danos durante a II Guerra Mundial, apesar de referir que os seus avós ainda tinham bem vivas as memórias dessa época. Numa outra conversa, sobre imigrantes na Europa, queixava-se de como os miúdos turcos na Alemanha desvirtuavam a sua língua porque não a sabiam falar corretamente. Disse isto em inglês, mas foi muito mais a forma que o conteúdo que me ficou daquela confissão. Havia uma raiva nos olhos, uma indignação, própria de quem vê um grande atentado aos direitos humanos: o que não era o caso. Mais tarde, fiquei indecisa sobre se ela tinha mais a dizer (em alemão) sobre aquele tema que tanto a transtornava ou se tinha apenas absorvido a irracionalidade xenófoba dos seus conterrâneos. Talvez fosse um pouco das duas. A falta de empatia que lhe vi quando lhe falei do que a Alemanha e a sua chanceler estavam a fazer — política e economicamente — ao meu país, em plena época de “resgate económico”, esclareceu-me sobre a insensibilidade para com o outro, apesar de ter estado exposta durante seis meses a uma grande multiculturalidade na sociedade sueca, graças à rede de amigas/os da sua senhoria e companheira de apartamento, uma rapariga sueca de origem chinesa e cuja melhor amiga era de origem arménia (se não estou em erro). Na Suécia, segundo me apercebi, dificilmente és “aceite” se não fores muito fluente, e de preferência perfeitamente, no domínio da língua. Há milhares de filhos, netos e até bisnetos dos tantos refugiados políticos que a Suécia recebeu essencialmente a partir da década de 1960, com as políticas multiculturalistas de Olof Palm.
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