Os dois blogs mais belos da internet portuguesa são escritos por duas mulheres.
Não sei se se conhecem, se se lêem mutuamente, mas os seus posts têm por vezes em mim o efeito de um livro ou de um filme, quando nos transforma por dentro sem vermos. São normalmente listas ou descrições de acontecimentos e são muito crus nas suas dissertações, são quase como um confessionário mas sem a culpa. Enumeram as coisas que existem na vida de uma mulher: o marido, o(s) filho(s), o(s) trabalho(s) como a parte menos brilhante da existência, uma identidade paralela, um tempo cruzado com a consciência do corpo, do desejo, das dores, das perdas e da esperança.
Se por um lado nenhuma delas tem a consciência da outra, falam-me como se viessem do mesmo sítio: o futuro? Um futuro familiar, preenchido, precário ou estrangeiro, da maternidade total, da vida a dois, da maturidade. Duas mulheres do outro lado do espelho. Eu do lado de cá, espectadora.
Há um conforto embaraçoso nestas leituras. A cadência do quotidiano delas, nas suas confissões, parecem amparar-me do meu vazio e do pavor do meu futuro ser igual ao meu presente, de que esta linha imperfeita se prolongue infinitamente vida fora, ora mais ou menos nítida, mas impávida. De nunca ter o momentum para quebrar essa cadência, alterando todos os planos e baralhando-me a mim mesma sobre o que devo ser.
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