Mercado do Anjo

By sufragista - fevereiro 11, 2021




Exceptuando os cabelos, as bancas de madeira e a proveniência da hortaliça, não é uma imagem muito diferente do que ainda se podia/pode ver nas feiras semanais de Barcelos, ou mesmo na de Matosinhos. A forma como as vendedeira prendem os xailes na saia é usada até hoje. Apesar de rara, ainda é possível comprar alguma fruta e hortaliça caseira nestas feiras, e noutras feiras semanais locais.

O Bolhão, que era o último mercado do século XIX a sobreviver na cidade do Porto, já se foi e nunca mais será nada do que foi. E com esta voragem liberal e um genérico ódio ao ar-livre e às economias informais, vamos ficar sem mercados, sem feiras, e talvez sem mercearias, aquelas que no Porto se chamam de "pomares".

E é, provavelmente nesta "identidade", que devíamos estar a pensar quando pensamos em "defender" o passado e a "identidade" histórica do país (ou do território), porque ela representa precisamente uma minoria desfavorecida: todos os que têm de recorrer a estas economias informais porque não podem, nem de longe, competir com as economias (cada vez mais) formais. Em vez de andarmos a gastar páginas de jornal a discutir se devemos voltar a pôr uns brasões às flores nos jardins dos Jerónimos, que nos lembram do tempo em que éramos orgulhosamente esclavagistas.


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